Cânions do Sul do Brasil: como visitar Itaimbezinho e Fortaleza em um fim de semana
Os cânions do sul do Brasil formam uma das paisagens mais impressionantes do país. Na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os parques nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral guardam duas joias que conquistam viajantes do Brasil inteiro: o Cânion Itaimbezinho e o Cânion Fortaleza. Em apenas um fim de semana, é possível conhecer os dois, combinar trilhas em áreas de borda, mirantes cinematográficos, cachoeiras gigantes e curtir o clima de serra em cidades como Cambará do Sul (RS) e Praia Grande (SC).
Planejar bem esse roteiro faz toda a diferença. É importante entender como funcionam os ingressos, quais são as trilhas mais adequadas para o seu nível de condicionamento e como está a estrutura dos parques após a concessão à iniciativa privada. Além disso, é importante entender detalhes práticos como melhor época para ir, horários de funcionamento, custos aproximados e cuidados com o clima de altitude.
Atualmente, o acesso a Itaimbezinho e Fortaleza é controlado pela Urbia Cânions Verdes, com bilhetes que permitem visitar ambos os parques em um período de sete dias, o que facilita organizar um fim de semana enxuto e bem aproveitado.
Ao longo deste guia, você vai ver como montar um roteiro de dois dias, dicas de como chegar a partir de Porto Alegre e Florianópolis, onde se hospedar, quais trilhas priorizar se tiver pouco tempo, além de orientações de segurança e de turismo sustentável. A ideia é que você termine a leitura com um passo a passo claro para transformar o sonho de caminhar pela borda desses paredões verdes em um plano real, seja viajando sozinho, em casal, com amigos ou em família.
Entendendo o motivo deles serem tão especiais

Os cânions do sul do Brasil fazem parte da borda da Serra Geral, um gigantesco paredão de basalto que marca a transição entre o planalto e a planície litorânea. Essa região abriga o Parque Nacional de Aparados da Serra, onde está o famoso Itaimbezinho, e o Parque Nacional da Serra Geral, casa do imponente Fortaleza. Criados para proteger a paisagem e a biodiversidade, esses parques preservam campos de altitude, florestas de araucária, mata atlântica e uma fauna rica, com espécies ameaçadas como o lobo-guará.
O Cânion Itaimbezinho se destaca pelo visual clássico de fenda profunda, com paredes verticais cobertas de vegetação e cachoeiras que despencam do topo, como o Véu de Noiva e as Andorinhas. Já o Cânion Fortaleza impressiona pela escala: é um dos maiores do país, com cerca de 7,5 km de extensão, até 900 m de profundidade e mirantes que revelam a imensidão da Serra Geral.
Além do impacto visual, essas formações geológicas são importantes destinos de ecoturismo e turismo de aventura, com trilhas de diferentes níveis, passeios guiados por dentro das fendas (como o famoso Rio do Boi) e atividades como tirolesas panorâmicas no Fortaleza. Para o visitante, isso significa combinar contato intenso com a natureza, caminhadas acessíveis e experiências mais desafiadoras em um mesmo fim de semana.
Melhor época para visitar, clima e cuidados com neblina e frio
A primeira decisão ao planejar sua viagem é escolher a melhor época. Em geral, a alta temporada nos cânions vai do fim da primavera ao verão (novembro a março), quando os dias são mais longos e as temperaturas mais agradáveis para caminhar. No entanto, é também o período com maior chance de chuva e neblina, o que pode limitar a visibilidade na borda dos paredões. No inverno, o frio é intenso, mas o céu costuma ser mais limpo, garantindo vistas abertas, especialmente em dias de massa de ar seco.
Uma regra de ouro é tentar programar as trilhas para o período da manhã, quando a chance de nevoeiro fechado costuma ser menor. Muitos guias e relatos de viagem reforçam que, a partir do meio-dia, a neblina pode subir rapidamente, encobrindo totalmente o visual, principalmente no Itaimbezinho.
Outro ponto importante é o frio de altitude. Mesmo no verão, as temperaturas podem cair bastante, especialmente com vento. Leve roupas em camadas, corta-vento, gorro e luvas em meses mais frios. Calçados fechados com boa aderência são essenciais, já que algumas trilhas têm trechos com barro e pedras escorregadias.
Em dias de chuva forte ou previsão de tempo muito instável, pode haver restrições em trilhas como Rio do Boi ou Borda Sul do Fortaleza por questão de segurança, então acompanhe sempre os avisos da Urbia Cânions e das agências locais antes de sair.
Como chegar: rotas a partir de Porto Alegre e Florianópolis
A porta de entrada mais comum é Cambará do Sul (RS), a cerca de 200 km de Porto Alegre. O trajeto padrão segue pela BR-116 até a região de Taquara, continuando pela RS-239 e depois pela RS-020/RS-110 até Cambará. O percurso leva, em média, 3 horas e meia, dependendo do trânsito e das condições da estrada. Outra alternativa é se hospedar em Praia Grande (SC), na encosta catarinense, que tem acesso pela BR-101, entrando em direção à Serra do Faxinal.
De Cambará do Sul, o acesso viário até o Parque Nacional de Aparados da Serra (Itaimbezinho) fica em torno de 18 a 20 km por estrada de chão, com sinalização adequada. Já o Parque Nacional da Serra Geral (Fortaleza) está a aproximadamente 22 a 23 km do centro da cidade, também por estrada não pavimentada. O trecho costuma ser transitável com carros de passeio, mas em períodos de muita chuva pode formar buracos e lama, o que exige mais atenção.
Quem chega de Florianópolis pode seguir pela BR-101 até o acesso a Praia Grande (aproximadamente 280 km) e usar a cidade como base, subindo a serra para os parques. Há também roteiros organizados que incluem transporte a partir de Gramado, Canela e Porto Alegre, uma boa opção para quem prefere não dirigir em estradas de terra.
Independentemente da rota, planeje sair cedo, encher o tanque antes de pegar a estrada de chão e usar aplicativos de navegação com mapas offline, já que o sinal de celular é instável em vários trechos.
Itaimbezinho em um dia: trilhas do Vértice e do Cotovelo sem correria

O Cânion Itaimbezinho é, para muitos visitantes, o ponto de partida ideal. Dentro do Parque Nacional de Aparados da Serra, duas trilhas principais percorrem a borda superior: a Trilha do Vértice e a Trilha do Cotovelo. Com planejamento, é perfeitamente possível fazer as duas no mesmo dia, aproveitando mirantes diferentes do mesmo cânion.
A Trilha do Vértice é curta, com cerca de 1,5 km de extensão, boa parte pavimentada, e considerada leve. O percurso passa por mirantes que revelam a abertura do cânion e duas cachoeiras icônicas: Véu de Noiva e Andorinhas. É uma excelente escolha para famílias com crianças, pessoas com menor condicionamento físico ou quem quer um primeiro contato com a região sem grande esforço.
A Trilha do Cotovelo é mais longa, com aproximadamente 6 km (ida e volta) em terreno de terra batida e trechos de campo de altitude. O nível é moderado, mas o caminho é praticamente plano, o que torna a caminhada acessível para a maioria dos visitantes. Ao longo do percurso, diversos mirantes permitem contemplar a profundidade do Itaimbezinho e a vegetação fechada no fundo do vale.
Muitas pessoas optam por fazer primeiro o Vértice e depois o Cotovelo, começando as trilhas pela manhã para evitar neblina intensa e pegar o cânion bem iluminado.
Dentro do parque há estrutura básica com banheiros, centro de visitantes, lanchonete e sinalização das trilhas, o que traz mais conforto para quem não está acostumado a trilhas longas. Mesmo assim, vale levar água, lanche leve, proteção solar e casaco, já que o vento na borda pode ser forte.
Explorando o Fortaleza: mirantes, trilhas e nível de dificuldade
O Cânion Fortaleza, no Parque Nacional da Serra Geral, é frequentemente descrito como o cânion mais impactante visualmente da região. A dimensão impressiona: paredões imensos, vales profundos e um horizonte que parece não ter fim. A boa notícia é que a maior parte dos mirantes principais é acessada por trilhas consideradas leves a moderadas, embora algumas opções mais longas exijam preparo extra.
Entre as trilhas mais procuradas estão a Trilha do Mirante, que leva ao ponto de vista clássico da borda norte, a Trilha da Pedra do Segredo, com sua rocha monolítica equilibrada sobre uma base estreita, e a Trilha da Borda Sul, mais longa e indicada para quem já tem experiência e costuma contratar guia especializado. Em média, as trilhas curtas levam cerca de 1 hora cada, enquanto a Borda Sul pode chegar a 3 horas ou mais de caminhada, cruzando trechos expostos e exigindo atenção redobrada perto das bordas.
Nos últimos anos, o Fortaleza ganhou ainda mais visibilidade com atrações de aventura, como uma tirolesa de grande extensão instalada em área autorizada pela concessionária. Para quem gosta desse tipo de atividade, é uma forma de ver o cânion de um ângulo diferente.
Ingressos, horários e regras de visitação atualizadas
Desde que a gestão turística dos parques foi concedida à Urbia Cânions Verdes, o acesso ao Itaimbezinho e ao Fortaleza passou a ser feito mediante ingresso pago, adquirido preferencialmente online. O bilhete padrão dá direito a três acessos, que podem ser usados em até sete dias, contemplando o Parque Nacional de Aparados da Serra (Itaimbezinho), o Parque Nacional da Serra Geral (Fortaleza) e, em alguns casos, trilhas específicas como o Rio do Boi, conforme regras vigentes.
Os horários de funcionamento geralmente vão das 8h às 17h, com fechamento nas segundas-feiras para manutenção em Itaimbezinho, salvo em feriados ou véspera de feriados. Algumas trilhas têm horário limite para início, como a do Cotovelo e do Rio do Boi, justamente para evitar que visitantes fiquem na trilha após escurecer. No Fortaleza, os horários também costumam seguir o padrão de 8h às 17h, com permanência por tempo limitado após o fechamento do portão.
É importante consultar o site oficial da Urbia Cânions ou canais atualizados das prefeituras de Cambará do Sul e Praia Grande antes da viagem, já que valores de ingresso, regras de estacionamento, operação de atrações de aventura e restrições de trilhas podem mudar com o tempo. Em 2024, por exemplo, algumas atividades no Fortaleza ficaram temporariamente suspensas por questões de segurança, o que reforça a necessidade de checar informações recentes.
Onde se hospedar: Cambará do Sul x Praia Grande e como montar o roteiro de fim de semana
Na hora de escolher onde se hospedar, duas cidades se destacam: Cambará do Sul (RS) e Praia Grande (SC). Cambará é a opção mais tradicional para quem quer focar nas bordas dos paredões de rocha, com acesso relativamente curto de carro tanto para Itaimbezinho quanto para Fortaleza. A cidade oferece uma boa rede de pousadas, hotéis de charme, campings e hospedagens mais simples, além de restaurantes típicos gaúchos e serviços de agências de turismo que organizam roteiros guiados.
Praia Grande, por sua vez, fica na parte baixa dos cânions, às margens de rios como o Rio do Boi, e é muito procurada por quem pretende fazer trilhas dentro das fendas, passeios de rafting ou cavalgadas. A cidade também oferece diversas pousadas rurais e hotéis-fazenda, com clima bem tranquilo. Para um fim de semana enxuto, uma estratégia comum é se hospedar em Cambará do Sul, concentrando a visita nas trilhas de borda, e deixar as trilhas internas mais longas (como o próprio Rio do Boi) para uma viagem exclusiva, com mais dias.
Um roteiro clássico de dois dias pode ser organizado assim:
- Dia 1: Chegada cedo em Cambará do Sul, visita ao Cânion Itaimbezinho com as trilhas do Vértice e do Cotovelo, almoço na cidade e tempo livre no fim da tarde.
- Dia 2: Visita ao Cânion Fortaleza, combinando Trilha do Mirante com Pedra do Segredo ou Borda Sul (de acordo com o seu nível de preparo), e retorno à cidade de origem no final do dia.
Caso você esteja de carro e queira dividir melhor as distâncias, também é possível dormir uma noite em Cambará e outra em Praia Grande, encaixando alguma atividade extra no domingo pela manhã.
Segurança, turismo sustentável e dicas práticas para aproveitar ao máximo

Por se tratar de uma área de penhascos profundos, trilhas expostas e clima instável, visitar os paredões rochosos exige alguns cuidados básicos de segurança. O mais importante é respeitar as orientações dos monitores e placas de sinalização, evitando se aproximar demais das bordas. Em trilhas mais longas ou técnicas, como Borda Sul ou Rio do Boi, é altamente recomendável contratar guias locais credenciados, que conhecem bem o terreno, a meteorologia e os procedimentos em caso de emergência.
Outro ponto fundamental é praticar turismo sustentável. Leve seu lixo de volta, use garrafas e vasilhas reutilizáveis para minimizar o uso de plástico, não alimente animais silvestres e mantenha-se nas trilhas oficiais para reduzir a erosão do solo e o impacto sobre a vegetação de campos e matas. Lembre-se de que os parques nacionais foram criados para proteger ecossistemas sensíveis, e a sua atitude individual ajuda a garantir a preservação para as próximas gerações.
Leve água, lanche leve, protetor solar, boné ou chapéu e capa de chuva. Use calçados fechados com boa aderência. Tenha dinheiro ou cartão de crédito ou débito à mão para eventuais taxas de estacionamento e serviços extras. Seguindo essas orientações, a experiência de caminhar na borda ou ver o fundo dos paredões rochosos a partir dos mirantes se torna muito mais tranquila, segura e prazerosa.
Conclusão
Visitar Itaimbezinho e Fortaleza em um único fim de semana é totalmente possível. Com um pouco de planejamento, você consegue encaixar as principais trilhas de borda, se hospedar com conforto e fazer as atividades que mais combinam com o seu ritmo e seu estilo de viagem.
Ao longo deste guia, você viu como organizar o deslocamento a partir de grandes cidades, qual é a melhor época para viajar, as trilhas essenciais em cada parque, as diferenças entre Itaimbezinho e Fortaleza e os cuidados de segurança e de sustentabilidade que não podem ficar de fora. Agora, o próximo passo é tirar o plano do papel: definir a data, garantir seu ingresso e preparar a mochila.
Seja para uma escapada rápida de fim de semana ou como parte de um roteiro maior pela região Sul, incluir esses cânions na sua lista é investir em momentos de contemplação intensa, caminhadas inesquecíveis e contato direto com alguns dos cenários naturais mais impressionantes do Brasil. Aproveite as dicas, adapte o roteiro à sua realidade e vá descobrir, com seus próprios olhos, por que esses paredões gigantes conquistam cada vez mais viajantes.